segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Rizoma e Multiplicidade

Multiplicidade:
Condição de um sujeito, elemento ou coisa que tem a virtude de amplificar e reproduzir qualquer fenômeno assim como de dar distintas respostas a uma mesma solicitação ou pelo contrário, dar uma resposta adequada a diferentes requerimentos.
Multiplicidade é geração, não repetição.¹


Rizomático:
Rizomático supõe que cada projeto é um ambiente que se autocondiciona e que gera sua proposta a partir da urgência com a que entra em contato. Por isso é ecológico. Procede associado de heterogeneidades tanto do ambiente em geral como das culturas em que acontece. ¹



“Contra os sistemas centrados (e mesmo policentrados), de comunicação hierárquica e ligações preestabelecidas, o rizoma é um sistema a-centrado não hierárquico e não significante, sem General, sem memória organizadora ou autômato central, unicamente definido por uma circulação de estados"²

O conceito “rizoma” se assemelha com o significado dado à botânica, de onde Deleuze se inspirou. Onde diversas plantas que possuem caules subterrâneos com função de órgão de reprodução assexuada e de reserva de alimento são chamados de rizomas. Onde podem surgir novas plantas a partir do desenvolvimento de novas folhas e raízes a partir dele. Formando um rede interligada, fazendo parte do organismo, mas ao mesmo tempo é um organismo único e autônomo.

Sendo assim, o conceito de rizoma proposto por Deleuze e Gattari, como uma organização desordenada, descentralizada, com multiplicidade de entradas e saídas. Porem ainda como um organismo unificado e agregado.

As multiplicidades são rizomáticas e são definidas pela desterritorialização ou pelas linhas de fuga, abstrata, e ao se relacionarem às outras alteram sua natureza.

“Oposto ao grafismo, ao desenho ou à fotografia, oposto aos decalques, o rizoma se refere a um mapa que deve ser produzido, construído, sempre desmontável, conectável, reversível, modificável, com múltiplas entradas e saídas, com suas linhas de fuga”²

No livro Mil Platôs, Deleuze e Gattari definiram o conceito de rizoma em seis princípios:

“1 e 2  – Princípios de conexão e heterogeneidade
Qualquer ponto de um  rizoma pode ser  conectado a qualquer outro e deve sê-lo. [...]
Um método como o rizoma supõe que analisar a linguagem é efetuar um descentramento sobre outras dimensões e outros registros para além de qualquer sistema fechado em si mesmo.

3 – Princípio de multiplicidade
As multiplicidades são rizomáticas e denunciam as pseudomultiplicidades arborescentes. Uma multiplicidade não tem sujeito nem objeto mas somente determinações, grandezas, dimensões que não podem crescer sem mudar de natureza. Em um rizoma encontram-se somente linhas e não pontos ou posições como numa estrutura, numa árvore numa raiz. Podemos definir o rizoma como um “plano de consistência”, mas um plano que só se deixa definir pelas suas linhas de fuga, que por sempre traçarem uma exterioridade, já definem a multiplicidade em sua transformação por conexões.

4 – Princípio de ruptura a-significante
Um rizoma pode ser rompido, quebrado em um lugar qualquer, e também retoma segundo uma ou outra de suas linhas e segundo outras linhas. É como tentar exterminar formigas, rizomas animais: elas reconstróem-se, segundo suas condições de ressurgimento. 
Um rizoma compreende linhas de segmentaridade segundo as quais ele se estratifica, territorializa, organiza, mas também compreende linhas de desterritorialização pelas quais foge sem parar. Isso não quer dizer que a ruptura necessariamente se liberte da dominação de um significante, da formação de um sujeito. Tudo  depende das organizações que reestratificam o novo (ou velho) conjunto. É por isso que o livro não é a imagem do mundo, ele faz rizoma com o mundo, territorializando-se e desterritorializando-se mutuamente. De todo modo, é certo que os processos de desterritorialização e reterritorialização são todos relativos uns aos outros. 

5 e 6 – Princípios de cartografia e decalcomania: 
Um rizoma não se justifica por um modelo estrutural ou gerativo. Ele é estranho a qualquer idéia de eixo genético ou estrutura profunda, os dois princípios do decalque. O rizoma é um mapa e não decalque. É uma experiência real a ser construída, não uma idéia a ser reproduzida. Pode-se objetar que o mapa pode ser decalcado, mas existe uma assimetria decisiva: é necessário projetar o decalque sobre o mapa e não o contrário. Não é exato que um decalque reproduza um mapa. Por ser da ordem da representação, o decalque precisa isolar o que lhe serve como modelo e artificialmente organizar, estabilizar, neutralizar as multiplicidades segundo as  significâncias e subjetivações que já são suas. O perigo reside justamente aí: quando um decalque imobiliza um rizoma, aí não mais passa o desejo, pois é sempre por rizoma que o desejo se move e produz."



- Referências:

[1] ¹ GAUSA, Manuel; GUALLART, Vicente; MULLER, Willy; MORALES, José; PORRAS, Fernando; SORIANO, Frederico. Diccionario Metápolis de Arquitectura Avanzada - Ciudad y tecnologia en la sociedad de la información (traduzido). Editora Actar.
[2]  ²  DELEUZE, Gilles; GUATRRARI, Félix. Mil Platôs (Capitalismo e Esquizofrenia) Vol. 1. 

Por Angélica Dornelas

Nenhum comentário:

Postar um comentário