domingo, 11 de dezembro de 2011

3_ MITO DE DÉDALO, PRIMEIRO ARQUITETO

Na mitologia grega, Dédalo, pai de Ícaro, era um dos artífices mais habilidosos e criativos de Atenas, conhecido por suas invenções e pela perfeição de seus trabalhos manuais, simbolizando a engenhosidade humana, o “pensar com as mãos”.
A pedido do rei Minos, Dédalo construiu um Labirinto no qual o rei aprisionou o Minotauro, fruto do adultério de sua mulher. Tendo sido cúmplice da traição contra o rei, Dédalo caiu em seu desagrado e foi, junto com seu filho Ícaro, aprisionado em uma torre no labirinto.
Sabendo que a prisão era intransponível e que o rei controlava mar e terra, Dédalo decidiu fugir pelo ar e para tanto põs-se a projetar asas, juntando penas de aves de vários tamanhos, amarrando-as com fios e fixando-as com cera, para que não se descolassem. Foi moldando com as mãos, de forma que estas asas se tornassem perfeitas como as das aves. Estando pronto o trabalho, o artífice, agitando suas asas, se viu suspenso no ar. Equipou Ícaro e o ensinou a voar lhe advertindo antes do vôo final:
- Ícaro, meu filho! Recomendo-te que voes a uma altura moderada, pois se voares muito baixo, a umidade tornará suas penas muito pesadas e, se voares muito alto, o sol derreterá a cera que as cola. Conserva-te perto de mim e estarás em segurança.
Todos que abaixo estavam contemplavam atônitos o que viam, julgando serem deuses aqueles que conseguiam cortar o ar de tal modo.
Mas Ícaro, não resistindo ao audacioso impulso de se aproximar do céu, subiu demasiadamente e, ao chegar perto do sol, a cera fundiu-se, soltaram-se as penas, e ele caiu no abismo do mar Egeu. O pai, vendo as penas flutuando na água e lamentando a própria arte enterrou o corpo e denominou a região de Icária, em memória do filho.

Embora engenhoso representante do intelecto e da racionalidade técnica, Dédalo tinha tanta vaidade com suas realizações, que não tolerava a idéia de um rival. Sua irmã entregou aos seus cuidados um filho, Pérdix, a fim de aprender as artes mecânicas. O jovem era um bom aluno e deu provas de notável habilidade. Dédalo teve tanta inveja das invenções do sobrinho, que certo dia, quando se encontravam juntos, no alto de uma torre muito elevada, atirou-o para fora. Minerva, protetora da habilidade, vendo-o cair evitou a sua morte, transformando-o numa ave, que recebeu seu nome, a perdiz.

Essa ave não constrói seu ninho nas árvores nem voa alto, acomodando-se nos arbustos e, lembrando-se da queda, evita os lugares elevados.
Esse mito nos parece apontar para uma mediação por onde a arquitetura contemporânea ainda não se encontra capaz de transitar.





Na construção arquitetônica é preciso empreender uma passagem do discurso para a edificação do objeto próprio da Arquitetura. Muitos arquitetos contemporâneos têm edificado literalmente seus discursos. Há uma diferença fundamental entre o discurso sobre a arquitetura e o edifício arquitetônico construído.

Precisamos inaugurar com a arquitetura a recomendação de Dédalo que, antes do vôo escapatório do labirinto ao qual pai e filho se encontravam condenados, ensina: 

Ícaro, voemos pelo meio, voemos por onde é possível voar, por entre o sol e o chão, por entre o céu e a terra, voemos por onde se pode construir a sombra, pois o esclarecimento da luz inteira não é coisa para os homens.”
“Enquanto isso nós, arquitetos contemporâneos seduzidos e imobilizados pelo encanto do brilho glamoroso do sol, arquitetos-ícaro continuamos a despencar nos abismos impalpáveis de nossos próprios feitos, ditos arquitetônicos (...) A construção de uma atitude por uma ‘arquitetura menos’ depende de um trabalho cotidiano e próximo do particular de cada homem que carece e deseja nomear um território. Pouco se encontra encaminhado para tanto que ainda está por fazer. Cabe aos arquitetos dos próximos dias projetar as construções que serão intermediárias à nossa necessidade atual de habitar nosso mundo”. (Mattos Corrêa , Adriano)

Referências: 
_Bulfinch Thomas, “O livro de ouro da mitologia – Histórias de deuses e heróis”
_Mattos Corrêa , Adriano, “A dádiva de Dédalo: um diálogo entre literatura e arquitetura” – Belo Horizonte, v.5,p. 113-120, dez. 2002

Postado por Bárbara Veronez

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