“Os aspectos para nós
mais importantes das coisas estão escondidos por sua familiaridade (somos
incapazes de perceber algo que sempre esteve frente aos nossos olhos).” Ludwig Wittgenstein
(1889-1951)
Há uma acepção, bastante comum, de representação como o
substituto de algo ausente.
Um exemplo dessa substituição seria a linguagem,
que torna presente ao pensamento “coisas” ausentes no momento em que se lê ou
se ouve um discurso. Há também a noção de toda imagem ser representação. Um
croqui de arquitetura, por exemplo, desenhado durante o processo de projeto,
substituiria algo que lhe é distinto e, para alguns, preexistente: a idéia
dessa arquitetura. Ou então substituiria o edifício, ainda inexistente, que o
projeto propõe. Nesse mesmo sentido, uma fotografia de arquitetura poderia substituir
um edifício existente, colocando-se como sua representante, por exemplo. Por
fim, há a idéia de todo pensamento ser representação, pois tornaria presente à
mente algo que lhe é distinto, e pode estar ausente.
No universo da
arquitetura e do urbanismo se convencionou designar como representações as imagens
(desenhos e fotografias) e os modelos tridimensionais, que se colocariam como
instâncias intermediárias – físicas (gráficas ou tridimensionais) – entre a
idéia e a materialidade dos objetos construídos.
Se na filosofia o termo representação faz aflorar diversos
questionamentos sobre as possibilidades e as formas de conhecimento do mundo,
no campo da arquitetura, e mais especificamente no entendimento do processo de
projeto, geralmente, aceita-se o termo como uma convenção inofensiva .
Seria a representação da arquitetura no processo de projeto
uma reapresentação aos sentidos de um pensamento que lhe antecede e define, como
se a representação fosse uma materialização sensível de uma idéia preexistente
de arquitetura?
Em qual medida o termo “representação da arquitetura” não
expressa um entendimento de a concepção da arquitetura pertencer ao mundo
mental, e o desenho e a modelagem seriam, então, meros meios expressivos dessas
concepções mentais, como traduções materiais de algo concebido no pensamento?
Haveria sempre uma idéia a anteceder a construção da forma
sensível? Ou haveria certas formas as quais são as próprias idéias, e não podem
ser melhor expressas se não por si mesmas, como as obras de arte?
Haveria sempre uma diferenciação – como hierarquia ou
sequência – entre pensar e fazer? E o pensar sempre antecederia o fazer,
tornando este, assim isoladamente, quase uma ação não-reflexiva? Existiria essa
dissociação?
A concepção do
projeto não seria a manifestação de um desejo, mais do que exatamente uma
idéia? Ou seria o desejo também uma idéia?
Ou haveria uma simultaneidade e uma sobreposição entre
pensar e fazer na concepção da arquitetura?
Seriam as imagens e objetos do projeto simples
representações (imperfeitas ou perfeitas) da obra? Mesmo quando não se
materializa em construção aquilo que foi projetado? E quando a obra está pronta
ela também é representação? Representação do quê? Do pensamento, do projeto?
Logo, me fiz tantas perguntas...
Tods sem respostas,
ou seria as perguntas as próprias respostas?
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