segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

“QUANDO SURGE O PROJETO”


“Os aspectos para nós mais importantes das coisas estão escondidos por sua familiaridade (somos incapazes de perceber algo que sempre esteve frente aos nossos olhos).”                          Ludwig Wittgenstein (1889-1951)
  Há uma acepção, bastante comum, de representação como o substituto de algo ausente.
  Um exemplo dessa substituição seria a linguagem, que torna presente ao pensamento “coisas” ausentes no momento em que se lê ou se ouve um discurso. Há também a noção de toda imagem ser representação. Um croqui de arquitetura, por exemplo, desenhado durante o processo de projeto, substituiria algo que lhe é distinto e, para alguns, preexistente: a idéia dessa arquitetura. Ou então substituiria o edifício, ainda inexistente, que o projeto propõe. Nesse mesmo sentido, uma fotografia de arquitetura poderia substituir um edifício existente, colocando-se como sua representante, por exemplo. Por fim, há a idéia de todo pensamento ser representação, pois tornaria presente à mente algo que lhe é distinto, e pode estar ausente.
   No universo da arquitetura e do urbanismo se  convencionou  designar como representações as imagens (desenhos e fotografias) e os modelos tridimensionais, que se colocariam como instâncias intermediárias – físicas (gráficas ou tridimensionais) – entre a idéia e a materialidade dos objetos construídos.
  Se na filosofia o termo representação faz aflorar diversos questionamentos sobre as possibilidades e as formas de conhecimento do mundo, no campo da arquitetura, e mais especificamente no entendimento do processo de projeto, geralmente, aceita-se o termo como uma convenção inofensiva .
  Seria a representação da arquitetura no processo de projeto uma reapresentação aos sentidos de um pensamento que lhe antecede e define, como se a representação fosse uma materialização sensível de uma idéia preexistente de arquitetura?
  Em qual medida o termo “representação da arquitetura” não expressa um entendimento de a concepção da arquitetura pertencer ao mundo mental, e o desenho e a modelagem seriam, então, meros meios expressivos dessas concepções mentais, como traduções materiais de algo concebido no pensamento?
  Haveria sempre uma idéia a anteceder a construção da forma sensível? Ou haveria certas formas as quais são as próprias idéias, e não podem ser melhor expressas se não por si mesmas, como as obras de arte?
  Haveria sempre uma diferenciação – como hierarquia ou sequência – entre pensar e fazer? E o pensar sempre antecederia o fazer, tornando este, assim isoladamente, quase uma ação não-reflexiva? Existiria essa dissociação?
 A concepção do projeto não seria a manifestação de um desejo, mais do que exatamente uma idéia? Ou seria o desejo também uma idéia?
  Ou haveria uma simultaneidade e uma sobreposição entre pensar e fazer na concepção da arquitetura?
  Seriam as imagens e objetos do projeto simples representações (imperfeitas ou perfeitas) da obra? Mesmo quando não se materializa em construção aquilo que foi projetado? E quando a obra está pronta ela também é representação? Representação do quê? Do pensamento, do projeto?

Logo, me fiz tantas perguntas...
Tods sem respostas, ou seria as perguntas as próprias respostas?

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