"O lápis, o esquadro, o papel;
o desenho, o projeto, o número:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre"
o desenho, o projeto, o número:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre"
(João Cabral de Melo Neto) (1)
A poesia O engenheiro,
de João Cabral de Melo Neto, brinca com o sentido da palavra justo, ao
homenagear a arquitetura e o urbanismo através de Le Corbusier. Para o poeta,
Le Corbusier, o engenheiro, utiliza suas ferramentas de trabalho para recriar
um mundo justo, exato, que ao mesmo tempo é desprovido de véus ou ornamentos,
para tornar-se concreto, ou seja, real.
Criar
um mundo justo e ao mesmo tempo desprovido de véus era uma preocupação
constante nas artes de vanguarda, que tinha na arquitetura um lugar de
destaque. Entenda-se por vanguarda um movimento que pretendia instaurar uma
nova ordem. Tanto na poesia concreta como na arquitetura moderna paulista, que
são o objeto de estudo deste artigo, a necessidade de impor-se passa por uma
reflexão teórica e por um comportamento por vezes autoritário, de repúdio ao
passado e valorização do novo.
A
poesia de vanguarda pretendia ditar uma nova ordem, ou seja, fazer-se ouvir
incorporando novos meios de comunicação como mass media, para manter viva a
arte. Já na arquitetura o processo passa por uma apropriação dos espaços, por
uma nova discussão entre público e privado. Em relação a esse discurso
autoritário das vanguardas, podemos encontrar em O caminho crítico, livro de
Northrop Frye origem da palavra ditador ou ditatore, que significa aquele
que tem o dom da palavra.
Para
saber mais sobre o MASP, dentre outros vale lembrar a dissertação de mestrado
de Kiefer, MAM – MASP: paradigmas brasileiros na arquitetura de museus. Já
Mahfuz no seu ensaio, Traços de uma arquitetura consistente, defende a
presença de uma idéia forte na arquitetura de Lina Bo Bardi. Este conceito
ao meu ver não pode se traduzir apenas esteticamente, porém, está embuído de
uma nova conduta ética. Conduta que Fuão em seu texto, Brutalismo: a última
trincheira do movimento moderno, sintetiza dizendo que a “toda atitude ética
corresponde sempre a uma atitude estética, e toda atitude estética a uma ética”.
Este
trabalho não pretende analisar sintaticamente a poesia, nem tampouco
formalmente a arquitetura e sim, apontar a conexão entre ambas como forma de
resistência cultural, como alternativas artísticas de ruptura, resistência e
superação. Se examinarmos os diferentes caminhos tomados para a composição do objeto,
veremos significativos enlaces, os quais, possivelmente podem ser analizados a
posteriori em um trabalho mais detalhado.Podemos então observar que entre as vanguardas citadas há vários
pontos de encontro e também muitas divergências. O importante é perceber que a
conexão entre a poesia concreta e o brutalismo vai muito além do distinto uso
da palavra concreto:
1
A poesia O engenheiro, uma evocação arquitetônica a Le Corbusier, na qual João Cabral de Melo Neto “mineraliza a realidadeo adjetivo justo corresponde ao substantivo justeza e não a justiça, termo abstrato para chegar ao concreto da criação”. LEITE, Sebastião Uchoa. Participação da palavra poética. Petrópolis: Vozes, 1966. p. 77.
A poesia O engenheiro, uma evocação arquitetônica a Le Corbusier, na qual João Cabral de Melo Neto “mineraliza a realidadeo adjetivo justo corresponde ao substantivo justeza e não a justiça, termo abstrato para chegar ao concreto da criação”. LEITE, Sebastião Uchoa. Participação da palavra poética. Petrópolis: Vozes, 1966. p. 77.
Referências:
postado por Hélder Fortes
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