segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Lina Bo Bardi: concreta poesia

"O lápis, o esquadro, o papel;
o desenho, o projeto, o número:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre"
                                                    (João Cabral de Melo Neto) (1)

A poesia O engenheiro, de João Cabral de Melo Neto, brinca com o sentido da palavra justo, ao homenagear a arquitetura e o urbanismo através de Le Corbusier. Para o poeta, Le Corbusier, o engenheiro, utiliza suas ferramentas de trabalho para recriar um mundo justo, exato, que ao mesmo tempo é desprovido de véus ou ornamentos, para tornar-se concreto, ou seja, real.
Criar um mundo justo e ao mesmo tempo desprovido de véus era uma preocupação constante nas artes de vanguarda, que tinha na arquitetura um lugar de destaque. Entenda-se por vanguarda um movimento que pretendia instaurar uma nova ordem. Tanto na poesia concreta como na arquitetura moderna paulista, que são o objeto de estudo deste artigo, a necessidade de impor-se passa por uma reflexão teórica e por um comportamento por vezes autoritário, de repúdio ao passado e valorização do novo.
A poesia de vanguarda pretendia ditar uma nova ordem, ou seja, fazer-se ouvir incorporando novos meios de comunicação como mass media, para manter viva a arte. Já na arquitetura o processo passa por uma apropriação dos espaços, por uma nova discussão entre público e privado. Em relação a esse discurso autoritário das vanguardas, podemos encontrar em O caminho crítico, livro de Northrop Frye origem da palavra ditador ou ditatore, que significa aquele que tem o dom da palavra.
Para saber mais sobre o MASP, dentre outros vale lembrar a dissertação de mestrado de Kiefer, MAM – MASP: paradigmas brasileiros na arquitetura de museus. Já Mahfuz no seu ensaio, Traços de uma arquitetura consistente, defende a presença de uma idéia forte na arquitetura de Lina Bo Bardi. Este conceito ao meu ver não pode se traduzir apenas esteticamente, porém, está embuído de uma nova conduta ética. Conduta que Fuão  em seu texto, Brutalismo: a última trincheira do movimento moderno, sintetiza dizendo que a “toda atitude ética corresponde sempre a uma atitude estética, e toda atitude estética a uma ética”.
Este trabalho não pretende analisar sintaticamente a poesia, nem tampouco formalmente a arquitetura e sim, apontar a conexão entre ambas como forma de resistência cultural, como alternativas artísticas de ruptura, resistência e superação. Se examinarmos os diferentes caminhos tomados para a composição do objeto, veremos significativos enlaces, os quais, possivelmente podem ser analizados a posteriori em um trabalho mais detalhado.Podemos então observar que entre as vanguardas citadas há vários pontos de encontro e também muitas divergências. O importante é perceber que a conexão entre a poesia concreta e o brutalismo vai muito além do distinto uso da palavra concreto:


1
A poesia O engenheiro, uma evocação arquitetônica a Le Corbusier, na qual João Cabral de Melo Neto “mineraliza a realidadeo adjetivo justo corresponde ao substantivo justeza e não a justiça, termo abstrato para chegar ao concreto da criação”. LEITE, Sebastião Uchoa. Participação da palavra poética. Petrópolis: Vozes, 1966. p. 77.

Referências:

postado por Hélder Fortes

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