segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Arquitetura do Medo


Por Larissa Cosmi


Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Medo que dá medo do medo que dá
[...]
Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá
O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar
[...]
Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo
Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão
[...]





(Miedo – Lenine)

Na letra acima, Lenine cita situações onde nos deparamos, face a face, com o medo, que se mostra mesmo em situações corriqueiras, as quais aprendemos a temer naturalmente, talvez como forma de defesa e ou insegurança, geradas pelo próprio medo.
Para Mia Couto, “Vivemos como cidadãos e como espécie em permanente situação de emergência. Como em qualquer outro estado de sítio as liberdades individuais devem ser contidas, a privacidade pode ser invadida e a racionalidade deve ser suspensa.” (COUTO, 2001)

É como se o medo nos fosse intrínseco, até mesmo com o fim de identificarmos as sensações de segurança e paz convencionadas pela sociedade, talvez como uma forma de controle, como se fosse o limite entre o seguro e o ameaçador.

Os que trabalham têm medo de perder o trabalho; os que não trabalham têm medo de nunca encontrar  trabalho; quando não têm medo da fome, têm medo da comida; os civis têm medo dos militares; os militares têm medo da falta de armas e as armas têm medo da falta de guerras e, se calhar, acrescento agora eu, há quem tenha medo que o medo acabe. (GALIANO, ?)

Mas até que ponto o medo influi na concepção de um determinado espaço? Podemos observar numa simples caminhada pela cidade, verdadeiras fortalezas do século XXI, por trás de altos muros erguidos sem piedade e antes mesmo da forma ser estabelecida, sem nenhuma relação com ela, o que mal nos deixa admirar uma possível bela arquitetura e bloqueia sua inserção no mundo público. Pressionados pelo fenômeno da insegurança, cada vez mais os arquitetos dedicam suas idéias às ferramentas de segurança, que passaram a ser os itens de maior importância na compra de um imóvel.

Dessa forma, prédios e casas passaram a ser verdadeiras prisões gerando um caos psicológico dentro de moradores com inúmeras fobias, carentes de vivência urbana e que se confinam em interiores protegidos por grades, muros e cacos de vidro.
A relação entre o espaço público e o espaço privado fica cada vez mais distante e bem delineada. O jardim perde a função de extensão do passeio e as janelas não se abrem mais para as calçadas, por vezes se abrindo para dentro. A rua passa a ser a simples conexão de um local privado para outro e não funciona mais como um espaço de socialização. O que muitos não percebem é que a ocupação e a vivência do local público podem muito bem substituir um muro e inibir a ação de qualquer ladrão, pois a movimentação é comprovadamente mais eficaz que a barreira física.
Em Teses sobre Ludwig Feuerbach, Karl Marx condena esta individualidade e disserta sobre o grave dano social que ela acarreta: “A natureza do homem é a totalidade das relações sociais”.

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