Diferentemente de
uma prática que busca modelos ideias e, portanto possui uma estrutura análoga a
dinâmica de uma árvore (admitindo a origem de tudo a partir de um único ponto),
uma esquizo arquitetura (amparada
pelos conceitos de esquizoanálise de Gilles Deleuze e Felix Guattari) reconhece
a potência do fragmento, as várias entradas possíveis para a construção do
saber e da cultura em constante mutação.
Não seria justamente
esse ideal de unicidade que nos conduz a modelos cada vez mais neuróticos de
cidades?
A idéia de “uno” se coloca de modo transcendente sobre
a vida na cidade. Talvez isto justifique a posição vertical e impositiva com
que os planos de ordenamento das cidades se apresentam. Pouco dispostos a se
localizarem na imanência dos acontecimentos da vida pública, não são capazes de
admitir a potencia e inventividade que se desenvolve nas frestas, que se situa
nos “entre” da cidade.
Uma cidade esquizo, portanto organiza-se de
forma rizomática, permitindo conexões múltiplas, mudanças constantes,
micropolíticas urbanas e ferimentos na lei. O rizoma admite a heterogeneidade e
abre espaço para uma prática MENOR, na qual tudo toma valor coletivo e
revolucionário. Um pensamento subversivo à lógica hegemônica do poder
instituído é a base da criação, caso contrário estamos fadados ao
empobrecimento da própria vida.
Da prática MAIOR,
deriva a “atração pelo liso, pelo
recoberto: apaga-se o desacordo”, nas palavras de Sérgio Ferro. Uma
arquitetura luminosa carece de esbarros, rugosidades, sombras. “Não é sem razão
que nos lamentamos sobre a frieza de nossos espaços, sua desumanidade”.
A arquitetura maior se articula, portanto, sob a tríade
saber-poder-discurso e se sustenta no deslocamento do saber do corpo social para o técnico, ao passo que uma
prática menor, situada no “entre”, enxerga a potência do possível, não censura a imaginação utópica e valida as tensões e dissensos, permitindo a
coexistências das contradições e diferenças.
Postado por Bárbara Veronez
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